9 de mar. de 2009

SAUDE- DOR DE CABEÇA

Uma baita dor de cabeça
Saiba como a enxaqueca afeta a sua carreira e aprenda a evitar as crises
Por Maurício Oliveira
Heudes Regis
O catarinense Valdesir Galvan, 42 anos, diretor-geral do Hospital e Maternidade São Camilo (SP): dores insuportáveis prejudicam seu desempenho em cerca de cinco dias do mês
Se você dá um sorrisinho irônico ao saber que um colega faltou ao trabalho por estar com enxaqueca, saiba que isso não é uma desculpa esfarrapada. O mal atinge, em maior ou menor grau, algo entre 10% e 20% da população. E é a segunda doença que mais provoca faltas ao trabalho, atrás apenas da lombalgia, dor na região lombar. Suas vítimas perdem, em média, cinco dias anuais de trabalho, estudo ou lazer. Em alguns casos, muito mais do que isso. "Os prejuízos à qualidade de vida provocados pela enxaqueca, levando em conta os dias de inatividade e as dificuldades provocadas no relacionamento social, equivalem aos de doenças crônicas graves, como diabetes e artrite", afirma o clínico-geral Alexandre Feldman, diretor de um centro especializado em tratamento de dores de cabeça, que leva seu nome e fica em São Paulo, e autor do livro Enxaqueca ­ Finalmente uma Saída (Editora Arx).
Além da quase insuportável dor na cabeça, muitas vezes descrita como "uma facada que atravessa o crânio", os sintomas associados à enxaqueca podem incluir enjôos, vômitos, tontura, alterações visuais, formigamentos em várias partes do corpo, aversão a claridade, a barulho e a cheiros, e até mesmo dificuldade para andar e falar. O quadro completo, que nem sempre se manifesta, é assustador. A ponto de ser confundido, até por médicos, com ataques cardíacos. Um agravante para as empresas é que a faixa etária mais afetada é justamente a que corresponde ao auge da vida produtiva, dos 20 aos 50 anos. É o caso do administrador catarinense Valdesir Galvan, de 42 anos, diretor-geral do Hospital e Maternidade São Camilo, em São Paulo. Ele pressente a chegada da enxaqueca quando acorda com uma dorzinha distante na cabeça, que vai aumentando ao longo do dia. Quando fica insuportável, ele toma um analgésico injetável, que costuma resolver o problema em meia hora. A maior preocupação, no entanto, é reduzir a freqüência das crises. Para isso, ele faz um tratamento preventivo, com medicação diária. Apesar de todo acesso aos recursos da medicina, o executivo tem o desempenho profissional prejudicado pela enxaqueca em pelo menos cinco dias do mês.
Vários profissionais vivem o mesmo problema, mas preferem sofrer sozinhos. "Principalmente quem ocupa cargo de chefia tende a esconder que tem enxaqueca. Executivos não gostam de demonstrar fragilidade", afirma o neurologista Mário Peres, do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. Segundo ele, as empresas deveriam mapear a incidência entre os funcionários e ajudá-los a lidar com a doença. Ele lembra que um ambiente de trabalho saudável ajuda a prevenir as crises, já que as pessoas que têm enxaqueca são menos tolerantes a variações de temperatura, a cheiros, a poeira e à falta de rotina em relação a tipos de alimentação e horários das refeições. Reduzir o ritmo, lidar melhor com os problemas e praticar uma atividade física também fazem diferença. "O padrão de vida típico da vida corporativa, com estresse, ansiedade e falta de exercícios físicos, é o cenário ideal para a enxaqueca", alerta Alexandre Feldman. Existe, ainda, uma relação entre a doença e a queda na produção da serotonina, neurotransmissor responsável por fazer os impulsos nervosos circularem entre as células do cérebro. Como a serotonina é produzida durante a noite, o clínico recomenda pelo menos oito horas diárias de sono, em completa escuridão. Valdesir sabe como isso é importante. "Nas semanas em que durmo pouco e me alimento mal, as crises são quase certas", conta o executivo, que trabalha dez a 12 horas por dia. "A saída seria uma vida menos estressante, mas isso não é fácil para um profissional que, como eu, tem muitas responsabilidades."
O quadro é ainda mais complicado entre as mulheres: a proporção é de quatro casos entre elas para um entre os homens. Uma das explicações é o excesso de estrogênio, hormônio feminino que superestimula o sistema nervoso e predispõe o cérebro à dor. Uma das vítimas é a publicitária paulista Flávia de Souza, de 30 anos, que trabalha numa empresa do setor automotivo, em São Paulo. Desde os 19 ela tem crises de enxaqueca. Na mais recente, foi parar três vezes no pronto-socorro, em uma semana, para receber medicação intravenosa. Para tentar evitar situações como essa, Flávia se submete a uma dieta que exclui derivados de leite, chocolate e álcool. "Os neurologistas disseram que é um problema com o qual tenho de conviver, mas ainda não me conformei."
O IMPACTO DA DOENÇA Os números da enxaqueca no Brasil assustam empresas e profissionais:
2a DOENÇA que mais provoca faltas ao trabalho, atrás apenas da lombalgia, dor na região lombar
4 VEZES MAIS freqüente na mulher, por causa do estrogênio, hormônio feminino
5 DIAS são perdidos anualmente por causa da doença. Em alguns casos, o prejuízo é maior.
Fonte: Revista você S/A.

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